POEMAS PRA NÃO CHORAR
(por quem foi e quem está)
" Aceite em troca o meu suor
por todo o sangue derramado.
A história dos negros
a página do livro que foi rasgada.
Enterrei minha armadura,
indignações germinaram.
Viemos de diferentes navios,
mas hoje estamos no mesmo barco"
Banca dos Loucos
I
primeiras palavras
Aqui nessa língua, o silêncio
criou a primeira palavra:
incrível jabuticaba
se amadurando por dentro
esquisito foi que delas
nasceu
borboletas e medos
antes delas, nem o nada,
curioso umbigo canalha
era um projeto possível
o traço de flor, a angústia,
o horror e a salada de frutas,
a difícil ira
dos contos de fada
tudo jabuticaba
se corroendo
Aqui nessa língua
a ausência
foi a segunda palavra
porque não havia nem monstros,
nem sonhos, nem madrugadas
antes dela, o que havia
conservava parentesco
com o risco imóvel na página.
II
segundas palavras
E se há regras demais nessa vida,
você, o que sabe da trilha?
já sabe que é só o começo?
tropeço sem sol nem sossego?
comida de pássaro preso?
Insiste nessa matemática.
Insiste em não muito saber.
Que o saco de sonho é estúpido
o jogo de cartas é único
que diz que não diz em você
(Se o que ela dizia era ausência
anêmona
ferida até não mais doer
Se a gente escolheu o silêncio
leito
lento
parindo o azul
e o vermelho
você já devia saber.)
III
Fértil ou: Amiúde
(pra Eduardo)
(a lata do lixo, o rato,
espaço de cobra e sabão)
Amor sem continha de lágrima.
Jabuticaba
ganha o chão
IV
Um salve pro Malote
Malote,
eu sei que sua vida
e não sua sorte
é o que deve ficar para a gente.
mesmo assim
mais lembramos da perda
talvez
porque é o dia de hoje
mais lembramos da ausência
presença
que nunca será
comprada
que nuca será
corrompida
que nunca será sequestrada
tua presença vivida
como inspiração à luta
como inspiração à guerra.
Africabristão.
te lembramos e saudamos
prestamos mil homenagens
que é pra compensar saudade
Somos fortes. O corte
não põe-nos um ponto final
A gente começa de novo.