quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Do fanzine ao blog: literatura e periferia na era digital

Ocultação de cadáver

O jornal The New York Times, há pouco tempo publicou uma matéria em que um ilustre sabido, Nicholas Negroponte, chamado de “visionário digital” por Nick Bilton, repórter, afirmava que o livro impresso, tradicional, já teria morrido, ficado obsoleto.

Em fins da década de 1990 e princípio de 2000, entretanto, a Internet ainda era, para a maior parte da população brasileira, uma tímida e distante possibilidade que, mesmo quando acessível, era cara, lenta e instável. Nos dias de hoje, percebe-se não só uma melhora na qualidade e um barateamento nos custos de acesso, como uma infinidade de recursos vem sendo criados a cada dia, possibilitando uma maior interação entre internautas, mesmo àqueles que só navegam neste universo via lan houses, “telecentros” e outros estabelecimentos e programas governamentais de acesso público e controlado.

Sem querer repetir o que outros muitos já disseram, apesar de ainda haver muito o que avançar, não dá para negar que houve sim um princípio de democratização, de inclusão digital no Brasil, e a literatura, que antes circulava entre poucos, via livros tradicionais, fanzines, cartas, postes e nas gargantas dos saraus, hoje também pode ser encontrada, sem grande dificuldade, na web.

Caso semelhante parece estar ocorrendo na relação entre os fanzines (pequenos jornais alternativos e quase sempre artesanais) e os blogs (os badalados “diários eletrônicos”). Naquele mesmo momento em que a Internet era tão rara em nosso país, o mesmo não se pode dizer da quantidade de fanzines que circulavam entre jovens de diversos coletivos Brasil afora. Praticamente todo grupo politicamente organizado, mesmo que informalmente, mantinha um zine mais ou menos periódico. Era uma forma de divulgar idéias e, no caso da literatura, especialmente a mais marginalizada, torná-la pública e acessível, sem a intermediação das editoras.

A pesquisadora Florentina da Silva Sousa, em seu livro Afrodescendência em Cadernos Negros e Jornal do MNU (Editora Autêntica, 2005), diz que os grupos minoritários sempre buscaram alternativas para tornar publica a sua arte, à revelia do mercado editorial e da academia, que dita o cânon. Mas, com a Internet, quase tudo parece ter se descomplicado e, posso dizer, pela minha própria experiência, que criar um blog é ainda mais fácil que um fanzine: o Dr. Google ensina.

Os fanzines Boletim do Kaos, do escritor Alessandro Buzo, o Efeito Colateral, de Rodrigo Ciríaco e o Literatura no Brasil, da Associação Cultural Literatura no Brasil são bons exemplos de zines dedicados à literatura marginal e ao cotidiano periférico, que se digitalizaram e, com isto ganharam em visibilidade e em conteúdo.

Como resultado, tal qual antes havia antes uma infinidade de fanzines que incluíam a literatura em seu conteúdo fixo, pulula hoje uma infinidade de blogs, muitos deles, como os antigos zines, completamente dedicados à literatura dita periférica ou marginal.

Os fanzines teriam morrido, como os livros de papel citados por Negroponte? Há que se considerar a resposta, pois até pode ser verdade que o número de edições de fanzines vem diminuindo ano a ano e o número de blogs, inversamente, vem crescendo - até eu, há tempos não produzo um zine, embora atualize constantemente meus blogs -. Mas dizer que eles estão mortos é exagero. Se não for assim, então minha casa, cheia de zines e livros da biblioteca comunitária, virou necrotério e muita gente corre o sério risco de ser presa por “ocultação de cadáver”.



Ilimitado

Enquanto a favela ficou nos belos, mas rasgáveis fanzines, seus versos, suas crônicas e suas mil e uma histórias, pouco incomodaram à legião de leitores inconformados com a nossa prepotência em escrever e tornar pública a nossa literatura – até porque, receber um zine era uma honra para poucos. Hoje, a falta de censura, a ausência do que poderia ser um filtro de “qualidade” no meio virtual, e a possibilidade de que qualquer um acesse os textos disponíveis nos blogs, provoca a ira de muita gente. Todos os blogueiros e blogueiras têm relatos de ofensas, pedras virtuais atiradas com fúria por leitores inconformados com a nova maneira que as ditas “minorias” encontraram de se fazerem vistas.

Ódio entre classes, à parte, a visibilidade proporcionada pelo mundo virtual aos autores periféricos, produz, sem sombra de dúvida um impacto positivo na autoestima de quem, enfim se sente representado com profundidade, sem a carga negativa dos estereótipos comumente atribuídos aos pobres.

Na Internet, ainda não nos puseram limites.



De zineir@s a blogueir@s

Conheci o escritor Alessandro Buzo por volta de 2000, através de uma amiga, a Daniele. Na época, ela e eu acabávamos de participar da fundação da Posse Poder e Revolução - grupo de jovens ligados ao Hip Hop, com o objetivo de intervir política e culturalmente no bairro – e estávamos às voltas com a produção de dois fanzines, o Rajada Cultural, que era um zine coletivo, do Poder e Revolução, e o “Musa-pra-que-te-quero” – um fanzine literário que pretendia reunir para mostrar e valorizar os escritores e, principalmente, as escritoras da periferia.

O processo de confecção destes pequenos jornais artesanais era bem simples: reuníamos textos, digitávamos ou escrevíamos à mão - o que fosse possível -, recortávamos, reagrupávamos e associávamos figuras de jornais, de revistas ou de outros zines, aos textos e, por fim, tirávamos o “xerox”, com dinheiro do próprio bolso. As pequenas tiragens (20 ou 30 exemplares) eram distribuídas apenas aos amigos mais próximos, ou para as pessoas que, sabíamos, se interessariam pelo assunto.

Um dia, a Daniele veio com a notícia de que uma pessoa que morava no Itaim Paulista (outro extremo de São Paulo) havia publicado um livro sobre a situação dos trens naquela região. Para nós, isto soou como uma grande façanha, pois, enquanto nós ainda estávamos juntando poeminhas e centavos para publicar pequenos fanzines, aquele rapaz, tão morador da periferia quanto nós duas, já tinha publicado um livro inteiro!

Imediatamente entramos em contato, por carta, compramos o livro e passamos a trocar fanzines. Buzo passou a nos enviar periodicamente o seu Boletim do Kaos e nós lhe mandávamos o Musa-pra-que-te-quero.

O “Musa” se desfez e eu, mais tarde, passei a produzir meus poezines (fanzines produzidos com meus próprios poemas). O Boletim do Kaos, do Buzo, sobreviveu e tornou-se um pequeno jornal que luta para se manter a cada fim de contrato com os patrocinadores, mas se mantêm como blog complementar ao do próprio Buzo, o Suburbano Convicto.



Confira você mesmo:

Blogs do escritor Alessandro Buzo:

Suburbano Convicto

www.suburbanoconvicto.blogger.com.br

Boletim do Kaos:

http://www.boletimdokaos.blogspot.com/

Literatura Periférica:

literaturaperiferica.blogspot.com



Blog da Associação Cultural Literatura no Brasil (Suzano SP):

literaturanobrasil.blogspot.com



Blog do Poeta Sérgio Vaz

www.colecionadordepedras.blogspot.com



Blog do escritor e professor Rodrigo Ciríaco

efeito-colateral.blogspot.com



Blog do escritor Ferrez

ferrez.blogspot.com



Blog da escritora Cidinha da Silva

cidinhadasilva.blogspot.com



Fontes: BILTON, Nick Para leitores digitais, o futuro é flexível em designer e conteúdo in: Folha de São Paulo, 09/08/2010

SOUSA, Florentina da Silva, Afrodescendência em Cadernos Negros e Jornal do MNU, Editora Autêntica, 2005

Sarau Perifatividade

dia 28 de Agosto nesse
sábado às 19hs
Final da rua: Amélia s/n, no CINGAPURA da divisa MARISTELA/CLIMAX

Sarau Perifatividade

Temos como compromisso trazer cultura, arte e o senso crítico do cidadão. O Sarau Perifatividade é uma aliança dos envolvidos no projeto Tudo Junto e Misturado com o Núcleo Poder e Revolução. Para assim desenvolver atividades culturais como: música, arte em stencil e grafite, poesia e muito debate produtivo para a comunidade. Os movimentos de intervenção comunitária aconteceram todo último sábado do mês respectivamente:
No Cingapura, final da rua Amélia, Bar da Dona Maria s/n Jd. Climax ( referência Av. Padre Arlindo Vieira, Ponto final do onibus 4708-Jd Climax) Contatos: Paulo 61484730, Fabner 67593882, Vander 63510560. Blogs: http://poderdoescrita.blogspot.com/ e http://malocapraquetequero.blogspot.com/

contamos com a presença de ilustres poetas, poetizas e admiradores da arte englobando todos os seus gêneros...
ou seja vocês, que somaram para que o movimento aconteça.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Utilidade Pública: PROJOVEM

Projovem prorroga prazo de inscrição, lança site e consegue vagas de emprego aos formadosTexto: Isabela Meleiro

O Projovem Trabalhador – Programa Nacional de Inclusão de Jovens, que oferece, gratuitamente, 10 mil vagas para cursos de qualificação profissional, tem três novidades. As inscrições foram prorrogadas para até o dia 10 de agosto e podem ser feitas também pela internet, no site www.projovemsp.com.br. Além disso, os alunos contarão com mais um incentivo: poderão sair da capacitação com emprego garantido. São cinco mil vagas de emprego na área de telemática (ligada à computação e telecomunicação), três mil em administração e dois mil no setor de alimentação. O início das aulas está programado para dia 23 de agosto.

O Projovem é uma parceria entre a Semdet – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, e o Governo Federal, por meio do Ministério do Trabalho. O objetivo é preparar e inserir jovens no mercado de trabalho, contribuir para o reconhecimento e a valorização dos direitos humanos, reduzir desigualdades e ampliar atendimento aos excluídos da escola e da formação profissional.

Na área de telemática, os cursos darão formação de operador de telemarketing, operador de microcomputador, assistente de vendas e helpdesk. Em administração, a capacitação será para auxiliar de escritório, arquivista, office boy/girl e almoxarife. E no setor de alimentação, para atendente de lanchonete/chapista, cozinheiro auxiliar e repositor de mercadorias.

Os cursos terão duração de seis meses, com uma carga horária total de 350 horas, sendo parte delas destinadas à qualificação social e parte à qualificação profissional. As aulas serão ministradas nos períodos da manhã, tarde e noite e terão início no dia 23 de agosto.

O aluno ainda contará com alguns benefícios durante o curso como: auxílio transporte, auxílio financeiro de R$ 600 divididos em seis parcelas de R$ 100, lanche, material didático (apostilas), kit escolar (mochila, cadernos, lápis e borracha) e duas camisetas.

O programa é destinado aos jovens com idade entre 18 e 29 anos que estejam em situação de desemprego, residentes no município de São Paulo, sejam membros de famílias com renda mensal de até um salário mínimo por pessoa e que estejam cursando ou tenham concluído ensino fundamental ou médio.

As listas dos alunos selecionados serão publicadas nos sites da Semdet (www.prefeitura.sp.gov.br) e do Projovem Trabalhador (www.projovemsp.com.br), sendo a primeira no dia 18 de agosto, e a segunda, no dia 27 do mesmo mês. Os interessados ainda podem se cadastrar nos CATs – Centros de Apoio ao Trabalho, nas unidades Luz, Interlagos, Lapa, Itaquera e Santana.

Endereços:

- Zona Central / CAT Luz
Av. Prestes Maia, 913
Horário de atendimento das 7h às 18h
Sábado das 7h às 13h

- Zona Sul / CAT Interlagos
Av. Interlagos, 6.122
Horário de atendimento das 7h às 18h
Sábado das 7h às 13h

- Zona Oeste / CAT Lapa
Rua Monteiro de Melo, 342
Horário de atendimento das 7h às 18h
Sábado das 7h às 13h

- Zona Oeste / CAT Lapa
Rua Afonso Sardinha, 201
Horário de funcionamento 8h às 17h
Sábado das 7h às 13h

- Zona Norte / CAT Santana
Rua Voluntários da Pátria, 1553
Horário de atendimento das 7h às 18h
Sábado das 7h às 13h

- Zona Leste / Itaquera
Rua Gregório Ramalho, 12
Horário de atendimento das 7h às 18h
Sábado das 7h às 13h