sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Em memória do Malote

POEMAS PRA NÃO CHORAR
(por quem foi e quem está)

" Aceite em troca o meu suor
por todo o sangue derramado.
A história dos negros
a página do livro que foi rasgada.
Enterrei minha armadura,
indignações germinaram.
Viemos de diferentes navios,
mas hoje estamos no mesmo barco"
Banca dos Loucos

I
primeiras palavras


Aqui nessa língua, o silêncio
criou a primeira palavra:
incrível jabuticaba
se amadurando por dentro

esquisito foi que delas
nasceu
borboletas e medos

antes delas, nem o nada,
curioso umbigo canalha
era um projeto possível

o traço de flor, a angústia,
o horror e a salada de frutas,
a difícil ira
dos contos de fada

tudo jabuticaba
se corroendo

Aqui nessa língua
a ausência
foi a segunda palavra
porque não havia nem monstros,
nem sonhos, nem madrugadas

antes dela, o que havia
conservava parentesco
com o risco imóvel na página.

II
segundas palavras

E se há regras demais nessa vida,
você, o que sabe da trilha?
já sabe que é só o começo?
tropeço sem sol nem sossego?
comida de pássaro preso?

Insiste nessa matemática.
Insiste em não muito saber.
Que o saco de sonho é estúpido
o jogo de cartas é único
que diz que não diz em você

(Se o que ela dizia era ausência
anêmona
ferida até não mais doer

Se a gente escolheu o silêncio
leito
lento
parindo o azul
e o vermelho

você já devia saber.)

III
Fértil
ou: Amiúde
(pra Eduardo)

(a lata do lixo, o rato,
espaço de cobra e sabão)

Amor sem continha de lágrima.
Jabuticaba
ganha o chão

IV
Um salve pro Malote


Malote,
eu sei que sua vida
e não sua sorte
é o que deve ficar para a gente.

mesmo assim
mais lembramos da perda
talvez
porque é o dia de hoje
mais lembramos da ausência
presença
que nunca será
comprada
que nuca será
corrompida
que nunca será sequestrada
tua presença vivida
como inspiração à luta
como inspiração à guerra.

Africabristão.

te lembramos e saudamos
prestamos mil homenagens
que é pra compensar saudade

Somos fortes. O corte
não põe-nos um ponto final

A gente começa de novo.

Um comentário:

r.c. disse...

dinha, é a última semana da minha peça. datas de apresentação: 11, 12, 13 e 15 de Dezembro. veja no meu blog o local e a hora. você sabe que a tua presença é mais do que aguardada, nêga.
grande abraço,

ciríaco