quarta-feira, 20 de julho de 2011

Liberdade é opressão

... como diria o Grande Irmão no livro 1984, de George Orwell

Até que enfim alguém de coragem!
A deputada baiana Luiza Maia (PT) acaba de propor à Assembléia Legislativa que o poder Público seja proibido de contratar artistas que ofendam ou desvalorizem as mulheres em suas produções. Obras que incitem a violência de gênero, ou sejam constrangedoras às mulheres também seriam vedadas, segundo a proposta.
A idéia da Deputada vem como uma reação a músicas como “Me dá a patinha”, do grupo de pagode baiano Black Style. A letra equipara mulheres a cadelas: ambas têm “patas” e são propriedades de alguém (geralmente um macho adulto da raça humana).
Na Bahia o trabalho sujo é feito pelo pagode. Em São Paulo, Rio e outras localidades, muda-se o ritmo, mas não o teor. Com o aval do Poder Público (agindo ou omitindo-se) o povo pobre, mais explicitamente que as outras classes, reproduz, no cotidiano e em algumas manifestações artísticas, a violência de gênero, a pedofilia, a sexualidade acentuada e a criminalidade como ponte para a conquista do respeito.
Em nome da “liberdade de escolha” a nossa sociedade permite até mesmo que o dinheiro público financie a propagação de idéias racistas, como as presente em grande parte da obra de Monteiro Lobato e outros autores recorrentes nas bibliotecas escolares.

Se quiserem, me chamem de moralista.
Mas eu é que não vou pagar, calada, para que as minhas filhas sejam publicamente humilhadas, tratadas como bichos ou objetos sexuais, apenas por serem meninas, pobres e negras em um mundo racista, classista e machista.

Se quiserem, me chamem de ditadora.
Mas eu é que não vou dormir tranqüila enquanto crianças de até 5 anos se matam aos poucos nas ruas do país porque não se pode retirá-las à força, em nome da liberdade de ir e vir prevista no ECA e na Constituição (do direito à proteção integral ninguém lembra).
Estranhamente, em nome das “liberdades”, estamos livres para sermos humilhadas, constrangidas e violentadas. O princípio da “liberdade” se sobrepõe ao da “dignidade”.

Dá licença?
Se a liberdade do outro me oprime, então não sou livre, confere?
Liberdade e bem comum deveriam andar de mãos dadas. Então as expressões do machismo, racismo e outros ismos que ferem a dignidade humana e refletem dominação (do macho sobre a fêmea, de brancos sobre as demais raças e de ricos sobre pobres) não podem ser admitidas com base no tal princípio da liberdade.
Dizer o contrário é mesmo um atentado contra a inteligência humana.

Em tempo:
O conceito de liberdade no mundo neoliberal, por vezes, não passa da esfera do consumo. Cidadãos e consumidores dividem a mesma esfera semântica.
Ao afirmar que somos livres para fazer nossas escolhas e direcionar nossas vidas, subentende-se que somos livres para consumir, e também responsáveis por nossos fracassos. Assim, se você acredita nisso, deve acreditar também que as mulheres apanham porque querem, porque escolheram; que as crianças vivem nas ruas e se viciam em crack porque desejaram; que adolescentes vão para o mundo do crime porque assim o quiseram e, por fim, crê que os ricos são ricos porque escolheram/mereceram/trabalharam.
Assim fica fácil, né?

E você que trabalha a vida inteira, ainda não tá rico/a por quê?
Alguém deve estar te enganando, não acha?

Um comentário:

Anônimo disse...

Maravilhoso, nunca alguém contemplou tão bem o que penso!!!