Poesia Relutante
Ao Mais-Novo (de pé)
Eu não quis esperar
você ir
pra fazer este poema.
Pode ser que você vá
daqui a oitenta e cinco anos.
Não importa.
Importa
saber
que você
é porta.
Como os outros.
Se se perder,
nós também estamos todos
muitíssimo mais
que perdidos.
desachados.
desse jeito que ficamos
quando perdemos o passo
(que horizonte
era coisa do passado.
de hoje em diante
o futuro
era apenas um abismo).
Não foi assim, Belega?
foi assim quando morreu
o amigo?
não ficamos abismados?
você e eu?
não era o Bristol um abismo?
impossível dar um passo?
Não foi que nos tiraram
um abraço?
dos mais justos, dos mais
engajados?
como se tirassem pai e mãe e nos deixassem
mais que órfãos?
mutilados?
Não foi, Belega?
foi assim?
como se, súbito, o mundo
deixasse de existir?
como se a palavra
encontrada
já deixasse de ouvir?
e o companheiro amigo
nunca mais que nunca
mais?
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Eu queria escrever esta carta
ao Belega menino
de anos atrás.
Que de pé, ainda estamos,
Mas nos faltam muitos sonhos
e futuro falta