sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

  • Poesia Relutante
    Ao Mais-Novo (de pé)

    Eu não quis esperar
    você ir
    pra fazer este poema.
    Pode ser que você vá
    daqui a oitenta e cinco anos.
    Não importa.

    Importa
    saber
    que você
    é porta.
    Como os outros.
    Se se perder,
    nós também estamos todos
    muitíssimo mais
    que perdidos.
    desachados.
    desse jeito que ficamos
    quando perdemos o passo
    (que horizonte
    era coisa do passado.
    de hoje em diante
    o futuro
    era apenas um abismo).
    Não foi assim, Belega?
    foi assim quando morreu
    o amigo?
    não ficamos abismados?
    você e eu?
    não era o Bristol um abismo?
    impossível dar um passo?
    Não foi que nos tiraram
    um abraço?
    dos mais justos, dos mais
    engajados?
    como se tirassem pai e mãe e nos deixassem
    mais que órfãos?
    mutilados?
    Não foi, Belega?
    foi assim?
    como se, súbito, o mundo
    deixasse de existir?
    como se a palavra
    encontrada
    já deixasse de ouvir?
    e o companheiro amigo
    nunca mais que nunca
    mais?

    ...........................................
    ........................
    .................................
    ......
    .....................................................
    ...................................................
    ..................................................
    .......................................................?
    Eu queria escrever esta carta
    ao Belega menino
    de anos atrás.
    Que de pé, ainda estamos,
    Mas nos faltam muitos sonhos
    e futuro falta
    cada vez mais

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