O
poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo
capitalista
e com as suas palavras, intuições, símbolos e
outras armas
promete ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira,
uma floresta
um verme.
Carlos
Drummond de Andrade,
“Nosso Tempo”, in A Rosa do Povo,
Editora Record, 2003
Quem pensa me conhecer,
só porque leu os meus livros, engana-se. Quem quiser me conhecer não
deve ler meus escritos. Os livros estão sempre sete anos atrasados,
não dão conta de quem sou.
Exemplo: Meu primeiro
livro, “De passagem mas não a passeio”, coleciona uma porção
de poemas adolescentes que me apresentam como uma figura irônica e
triste de dar dó. Sob uma aparência revolucionária encontramos
poemas terrivelmente neoliberais. Libertinos, muito mais que
libertários.
Ora, se tem uma coisa
que me envergonha profundamente é isso: essa farsa revolucionária,
essa vulnerabilidade feminina que os espertos costumam taxar de
“libertação”.
Liberdade, ali, só a
de Mandela. O resto é balela. Consumo.
Em “Onde escondemos o
ouro” - livro que está pra sair –, idem . Embora já não haja
aqui nem sombra do que fui, temos ainda a sugestão de um ser
extremamente vingativo, pronto para dar o troco.
Sete anos de azar de
novo. Não sou mais essa pessoa vingativa. Não quero o Ubiratan
morto, embora queira ainda o meu Malote de volta.
Vingança pra mim nem
fria nem quente. Na minha mesa só quero sementes que germinem e
alimentem a vida em qualquer canto.
O que diz melhor de
mim, talvez, sejam os zines. Por serem publicações pequenas,
efêmeras e pontuais – simples – traduzem melhor os momentos,
compõem mosaicos no tempo.
Mas, se é assim,
porque publicar? Porque, se com tantos defeitos, vergonhas e
arrependimentos, ainda gasto meu tempo e dinheiro publicando livros?
É porque, apesar dos
erros, se salva o discurso. No conjunto, os poemas compõem mosaicos
de cristais inquebrantáveis e apresentam o meu desejo de ser útil,
de encontrar e reforçar a essência humana, revolucionária, em cada
título, em cada página.
A contradição
capitalista também mora em mim, apesar da minha luta diária contra
esse sistema.
Se publico, é porque
quando releio os poemas antigos algo de novo ainda tilinta bem no
fundo desse beco esvaziado onde moramos.
E esse tilinto é azul
pontilhado de vermelho: semeia a paz nesse campo minado de guerra.
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