quarta-feira, 18 de julho de 2007

Em homenagem aos Anjos do Rap... um deles tombado em 04/12/06...

Poesia Relutante

Ao Mais-Novo (de pé)

Eu não quis esperar
você ir
pra fazer este poema.
Pode ser que você vá
daqui a oitenta e cinco anos.
Não importa.
Importa
saber
que você
é porta.
Como os outros.
Se se perder,
nós também estamos todos
muitíssimo mais
que perdidos.

desachados.

desse jeito que ficamos
quando perdemos o passo
(que horizonte
era coisa do passado.
de hoje em diante
o futuro
era apenas um abismo).

Não foi assim, Belega?
foi assim quando morreu
o amigo?
não ficamos abismados?
você e eu?
não era o Bristol um abismo?
impossível dar um passo?

Não foi que nos tiraram
um abraço?
dos mais justos, dos mais
engajados?
como se tirassem pai e mãe e nos deixassem
mais que órfãos?

mutilados?

Não foi, Belega?
foi assim?
como se, súbito, o mundo
deixasse de existir?
como se a palavra
encontrada
já deixasse de ouvir?
e o companheiro amigo
nunca mais que nunca
mais?
...........................................
........................
.................................
......
.....................................................
...................................................
..................................................
.......................................................?

Eu queria escrever esta carta
ao Belega menino
de anos atrás.
Que de pé, ainda estamos,
mas nos faltam muitos sonhos

e futuro
falta
cada vez mais.
18.07.07