quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Batalha de Free Style / Preconceito Regional

O Hip Hop chega ao Brasil no finalzinho da década de 70 (época de ditadura militar) e já em meados dos anos 80 começa a apresentar suas primeiras produções. “Personagens” como Pepeu, Mc Pomel, Mc Jack, produzem um Rap descontraído, sem muitas críticas sócias, mas sempre atento às questões de raça de região. Após a segunda metade dos anos 80 (fim da ditadura militar) o Rap tem produções que denunciam, de forma direta e primeiro que qualquer outro tipo de arte no país, o racismos, a polícia e os ricos.
Nos anos 90 o Hip Hop ferve em todo país. Em São Paulo, no Vale do Anhagabaú, reuniam-se em um evento de Hip Hop cerca de 80 mil pessoas. No Palmeiras os eventos de Hip Hop eram lotados por deis, sete mil pessoas numa só noite. Apresentação após apresentação, discurso após discurso. As festas de rua e os famosos “Pedágios”, organizados por algumas emissoras de rádio, levavam para dentro dos bairros da periferia paulistana 15, 20 grupos de rap num só evento. Tudo isso acompanhado de grafite, break, música boa e uma boa dose de denúncia ao racismo, à polícia e aos ricos. Surgiram as Posses de Hip Hop (Força Ativa, Haussa, Aliança Negra e muitas outras). Reforçando ainda mais discussão política dentro do Hip Hop. Eu mesmo e minha família fazemos parte de uma que surgiu no final dos anos 90 e que persiste até hoje, a “Poder e Revolução”.
Quem é negro, quem é favelado sabe o quanto esse momento do Hip Hop contribuiu para a construção de nossa identidade e de nosso auto-estima. Quem está ou esteve atento ao cenário político sabe também que os shows no Anhangabaú foram proibidos porque a prefeitura de São Paulo passou a considerá-los perigosos demais, era muito e preto e pobre num só lugar. Os ricos, a polícia e os racistas tremiam na base diante da força coletiva e das fortes denúncias. Sabe também que o Hip Hop sério é feito para a classe pobre e pela classe pobre e que tem um compromisso com esta.
Aí, outro dia, presenciei no “Maloca Espaço Cultural”, em um evento que discutia racismo, uma batalha de Free Style e me deparei com um momento onde um tal mc Tampão se referia ao mais velho mc da quebrada do Parque Bristol, (MC TERNO) como: cearense da cabeça grande, cearense passa fome e outras piadinhas mais que muitas pessoas nascidas nas cidades, principalmente, de São Paulo e Rio de Janeiro costumam fazer contra o povo nordestino. Aí me lembrei do “Sabotage” que dizia: Rap é compromisso, não é viagem... . E fiquei com saudade daquele momento do Hip Hop, onde vários grupos que hoje estão no alto cenário da música invadiam os bairros de periferia e faziam shows mesmo com uma microfonia terrível e de graça. Aí me perguntei: Será que Hip Hop se distância do povão na medida em que vai se profissionalizando. Porque tenho observado que vários moleques entre dezesseis e vinte anos nunca participaram de um evento de Hip Hop. Nunca viram um show de rap ao vivo. Ficam paralisados na frente da TV vendo uma pa de DVD de rap dos EUA, que eles chamam de black, muitas vezes sem saber que black quer dizer preto. Desde que chegou ao Brasil o Hip Hop tem contribuído com os pretos e com os pobres. Não há nada nem ninguém no país que ofereça para a única classe que, constantemente, apanha da polícia, a única classe que só é explorada sem nunca explorar ninguém, auto-estima e identidade. Só o Hip Hop. Só o Hip Hop oferece ao povo da favela uma discussão política que não seja eleitoreira.
Por isso faço de novo a pergunta: Em batalhas de Free Style vale de tudo? O rap compromisso virou viagem?

Ass.: Du

3 comentários:

LITERATURA BRASILEIRA NA ESPANHA disse...

Como sempre esqueço de comentar, comento aqui...
Muito bom o seu texto. Dá pra lembrar do "tempo bom que não volta" (nunca mais?)
beijos

BasTiaN disse...

Salve São Bento eo HIP HOP nacional;

Anônimo disse...

Então, não acredito q o mc Tampão
seja preconceituoso ou algo do gênero, pois ele tem seu estilo de batalha como qualquer mc possui um estilo próprio, ali na hora da batalha os mc's usam as caractéristicas dos outros para batalhar como o nome mesmo já diz "batalha" lembro uma vez na rinha dos mc's o dj q estava tocando entre os rounds fez um pequeno discurso sobre cabelo black dizendo q não existe cabelo duro e sim cabelo crespo, isso após um mc dizer q o cabelo do outro parecia uma esponja de aço, não encaro como preconceito ou ofensa pois o próprio mc q fez a rima tb tinha o tal "cabelo crespo" que na minha opinião é cabelo duro sem nenhum preconceito o mc então respondeu dizendo que tb era preto e não queria ofender o outro nesse sentido (q foi apenas um comentáio sem intenção de ofensa) então um maluco que estava entre o público da batalha gritou lá do meio da pista "NãO é PRETO IRMãO é NEGRO!" para mim é cabelo duro como tb é preto! novamente sem nenhum total preconceito de minha parte, ou seja muitas vezes o preconceito vem da mente pouco aberta das pessoas de não saberem lidar com certos tipos de coisa.
em batalhas para mim vale quase tudo sim, com excessões de pederastia e ofensas familiares
acredito que a batalha como no começo lá em NY vem do lance da gastação do lance de ver quem é o melhor ali no improviso usando o que se pode usar dentro de certos limites, limites esses q citei acima, os quais não existiam nas primeiras batalhas, e que com o tempo aqui no Brasil foram aderidos.