segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Poesia com armas

Instante

... e há sonhos para nunca mais realizados
tal é o instante
preciso
que antecede a bala.

A imagem longe do caminho
flutua sobre as ondas
duma qualquer recordação banal
O peso da arma aos ombros
a monotonia dos passos
o cansaço
as folhas secas
tudo mergulhou profundamente
no sono de algo bem amado;
os nervos que há momentos estavam tensos
lançando os olhos como setas
bússola dos ruídos
repousavam uns segundos
do tempo de poesia
no instante
preciso
que antecede a bala.

E quando a bala
feriu o silêncio carregado
prostrando o homem sobre a terra
não foram assassinos que o mataram.
O guerrilheiro também vive
um tempo de poesia
como a vida de uma bala
na emboscada dos murmúrios
apenas respirados.

O guerrilheiro é terra móvel
decisão de liberdade
na pátria raivosamente escrava.

Costa Andrade
(Poesia com armas)

Um comentário:

Terno disse...

Poxa que poesia da hora.
Acho que vou furta-la